domingo, 6 de janeiro de 2013

Às...



Ainda temo que não sejam suficientes os meus medos, para que, de certo, sem apego, eu me exercite no convívio dos nobres. Tenho me revelado triste. Com ou sem vantagens de uma esquizofrenia que constrange-me aos poucos.  Deito-me nua, sem freios de mentalidade incerta e amanheço, talvez, uma mulher menos amarga. Nua, digo assim sem pudores, pois é isso que faz de mim tão menos apreensiva e um tanto mais esperançosa de mim mesmo. Não aprendo a conviver com os pouco afetuosos. Menos doces, mais paisagens e um whisky ao final da madrugada. Certas madrugadas; não somente uma. Ando bebendo além do que me ensinaram, naquelas praças noturnas. E, de certa forma, ando isolando-me mais que os outros tão ociosos quanto. Preciso, ainda e de repente, dessas mesas de jogos. Compro vinhos e sândalo. Sem relevância. Que associação tão monstruosa e intempestiva! Digo a mim mesmo ao final dos dias. O perfume da embriaguez e o baque dos olores das noites...
Certo dia chovia enquanto eu conseguia, de mansinho, chorar. E chorando, assim sem um pranto caótico, eu pude sentir-me mais pura. Eram as lágrimas e o copo de whisky. Uma sonata de Chopin, ao fundo da sala, acompanhava-me enquanto meus olhos ardiam. Eu quase senti aquela estranha sensação de perda instantânea. Aquela reviravolta magra do estomago à procura de uma cadeia alimentar que possa organizar os dias e fazer-me sentir felina. Devoro sonhos, ainda. Não durmo por prazer. Antes fosse. A dor aguda acompanha o sono que só vem atrelado à essa depressão momentânea. Adormeço no medo e acordo aflita no grito. É, sem demora, esse grito preso dentro d’alma que vem dizer qual caminho seguir. Acabo por não seguir nenhum, ao menos, nem sigo. Estatizo-me para que a dor possa desaparecer magicamente. Em vão. Horas e horas em vão. Assombrada pelo passado e por algumas maneiras pouco convencionais de viver. E, novamente, a lagrima que cai e mistura-se à bebida etérea. Já que não fumo, bebo. E, a cada dia, bebo um pouco de mim mesma para saciar-me inteiramente. Já não gozo. O gôzo para mim é tão seco e pudico que não vale a pena. É como um verbete que eu busco sem encontrar respostas. Significado já não há. Houve um dia. Faz tempo.
Os jornais, não leio em busca de noticias e sim de um mistério que se encaixa em cada palavra e faz-me ser unificada ao corpo do ensejo. Àquela magistral maneira de transbordar orações sem nexo, algumas palavras sem sentido à procura do vazio contextual. Todo contexto é vazio. De certo, imagino quando leio alcoolizada. Imagino as letras passarem sonambulas e mortas. Nem as consigo enxergar ao final das noites. Elas não se encaixam mais em mim. Fui letra e agora sou corpo ôco da escapatória de ser. Ainda sou. Talvez, mais tarde, nem eu mesma saiba como continuar sendo. Leio por desgosto e não por prazer. Prazer eu teria se a semana de arte moderna pudesse ser inédita nos anos atuais. Mas a magistratura perdeu a glória. A palavra perdeu o encanto. As  luzes apagaram-se no vazio da forma simples do corpo verborrágico. E eis que, de repente, mesclando-me a este vazio meio frustrante, eu existo num vulto de tempo. É quase uma persuasão. Um mistério inexplicável. O copo de whisky ainda pela metade me chama, mas já não enamoro-me dele. Quero o verbo claro para a cópula involuntária. A palavra é AMAR. É quase esta e nenhuma outra que fez-me enxergar estes devaneios pouco sumptuosos. Amar já foi e não mais será. E, seria, talvez, se houvesse mais gelo ao meu meio copo. À minha meia taça de paciência. Seria AMAR, quem sabe, o ar para esta bolha nitidamente murcha. É a palavra que não morre no tempo. Mas o sentimento que extravasa no alheio. Este pouco afeto desesperado de quem ama para cegar aos outros. Nem sei mais qual a medida do meu copo. À mesma medida deponho a este estranho sentimento palavreado. Amor no pretérito incerto por demasiado.
Bebo a metade que sobra do tempo e já não amo. Declaro-me lúcida somente por instinto. E preencho o mesmo tempo com as palavras que em que já não creio. Somente ergo-me, conseguindo percorrer o caminho acinzentado até a cama, quando o amor passa a tomar-me por excesso. E a dose finda-se. No copo e no gargalo estreito. Faço desta estreiteza a minha direção e amanheço, noutro dia, com a ressaca impregnada da palavra Amor. Amar é o vício que alimenta a dor de ser. Ainda. Ainda bem que há a conjugação. Ainda bem que há a palavra. O sentimento, não mais!