terça-feira, 25 de junho de 2013

Anjos


Talvez eu apenas tivesse visto em você tudo aquilo que eu queria ser, mais um espelho dos meus anseios, desejos e perdições. Não nasci para templos humanos, vôo em nuvens mais altas, quase infinitas e cheias de uma graça muito incomum a todos os mortais. Digo, quase todos! Pois me perco em palavras, para não dizer que, exatamente, teus olhos tem sido diversos dos outros. Teu sorriso, um capricho. Quase, por segundos, me encontro e me perco nele, nos gestos, nas suas pequenas maneiras de rir e tocar. Foi efêmero, secreto e voraz. Coisas desse tipo exercem fascínio e pavor constantes, exagerados. Por isso, às cinco da manhã, vendo um céu estrelado desmanchar no sol nascente, abraço o que você deixou em mim. Tudo e Nada! Os beijos, alguns carinhos, o cheiro, as sombras das mãos, ainda, sempre! Não amei a quase ninguém e despretenciosamente, mesmo, amei a tanta gente! Mas entre estes olhares que passaram, apenas um qual o seu. Mas entre seus beijos, palmo a palmo, lado a lado estão os dele. Não sei o porquê, ando tanto me perguntando, insistindo com Deus. Talvez o segredo é que eu tivesse que ser homem para me precipitar ao medo e entender este lado que diz tudo mesmo estando em silêncio. Sim! Se eu fosse um “ele”, mesmo sendo eu, tudo seria mais fácil. Para meus desejos e preces. Teria sido o Amor da vida dele, talvez, fosse agora também o seu. Mas propositalmente Deus quis-me fêmea e incomum. Embora a alma diga o contrário do que o corpo congrega. Descubro, neste momento, instantaneamente, uma alma masculina, forte e infinita. Descubro o que há tanto havia em mim e você possa ter despertado tão ferozmente. Sou homem inteiro e intacto n’alma. Por isso minha mãe quis amar-me pouco. Nem ela mesma pôde enxergar em mim o filho que tanto desejou e não veio. Mas sou, então, eu mesmo. Eu mesma em mim mesmo. Um paradoxo delirante entre traços delicados e bruteza crua. Minhas odes angelicais, os olhos de boneca, os lábios rosa, amenos, as mãos pequenas contrastam tanto com o que verdadeiramente reside em mim! Por isso, Amei ele, talvez, esteja Amando você. Digo talvez, porque de Amor, embora precise, pouco entendo. E nesta madrugada que se finda para mais um dia qualquer, posso ver através do que as coisas, os lugares e os corpos se fazem e passo a crer na alma de tudo o que vive neste mundo. Nada é o que parece ser, tudo é aquilo que segrega em si mesmo medos, lembranças e marcas do tempo. Interessante! Vim aqui, exatamente, escrever para você, mas terminei n’algumas linhas escrevendo para mim mesma(o). Então, devo agradecer por você ter ajudado com que eu me encontrasse e entendesse o motivo de todas estas palavras? Agradeço, sim! Compreendo também os que tanto cismam em dizer que Deus não coloca as pessoas em nossas vidas por acaso, que nossos caminhos não se cruzam por casualidades, que há mais coisas entre o céu e a terra que possamos supor. É verdadeiro! Que haja em mim o poder de cada uma destas palavras, pois agora creio. Consigo ver através de vocês dois o que era “eu” e inda sou, fui o tempo inteiro e nunca pude "exercer" realmente. Agora eu serei exatamente aquilo que Deus quer para mim. Posso tocar o mínimo mistério das coisas e do que sempre desejei. Quase vim aqui dizer o que pensava sobre você. Falar do seu sorriso e do seu olhar, que cheguei a prescindir nas primeiras linhas. Mas findo tudo aqui e neste mundo, falando de mim. Sou um tempo infinito num espaço muito finito para acontecer, assim, naturalmente. Por isso, vocês. Por isso “eu”. Não são as suas almas cheias de contornos femininos! É a minha a nascente masculinidade com que seus olhares, tão profundos e nada óbvios, conseguiram penetrar. Embora dele eu tenha a alma e de você, o corpo. Ele , talvez, tenha ou ainda possa ter, me amado espiritualmente. Enquanto você e eu tivemos um ao outro em carne e nada mais. Eis insípido o elo que rompeu os segredos. Alma (Ele) e carne (você). Corpo (você) e sentimentos (Ele). Muitos anjos em um só, muitas almas em corpos desconexos. O precipitar da vida e da morte. Dos oráculos e dos sinais divinos. Nada mais que as mãos de Deus agindo no universo!