sábado, 27 de novembro de 2010

Às vértices...

                                                          Oh, boy, you've left me speechless...


Desejei as vertigens de Rimbaud,
todas de uma só vez sem juízo
e o preço a pagar pelos excessos?
caríssimas mudas de sonhos,
o prejuízo d'alma inteira...
Desgraçada fui!
Ousei tocá-lo adentrando-me
do lado errôneo, e os beijos?
noites, agora, sem fins
e findado o coração aos gritos,
pulsa nas veias, morno e desatinado
o sangue em pecado e dano...
Por que deste-me tais beijos?
Por que escolheste, das flores, a menos duradoura?
Porque seguiste meu olhar a prumo e
em explosão calou meu mundo...
Ouso dizer-te, tudo e pouco mais...
Foste tempestade afetuosa e densa
nuvens e nuvens de lágrimas derramo
e inda que insisto e reclamo
não lograrei respostas...
Pois das incógnitas inscritas
tu és, dúbio, a mais sacra...
Ainda que eu ouvisse as melódicas vértices de Byron
e cantasse-as uma a uma, das letras
a poética grotesca, ôca entraria em desvario
e consumiria meus dias, as horas fulgazes
e teu dorso só em sombra e desejo
fugiria aos meus dedos e unhas largas...
Teu nu e bélico corpo em plácido sono
o meu desejo intenso, a sede voraz de um coiote às pressas
com as prêsas afiadas à carne viva, marcada
sem ódio, pudor ou temor
dei-me ao desalento da noite escura, neblinada
uma vez mais que não foste meu e n'outras
quis morrer viva...
 Mas acaso não creio em votos de luz
à luz e meia deste céu que encontra-nos
com teu olhar sangrando a receios púdicos
e a razão do macho transversal à espreita
deixa-me tonta e perdida pra um sempre...
Antes viesse-me nas madrugadas
e ousasse puramente,
crucificando minhas vontades,
este anseio tôlo em desejar-te mais
sabendo que me olhas com dúvidas incabíveis
com estes olhos quase negros, ora infantes,
mas inteiramente postos à caça...
Nestes segundos, ao receptáculo da rosa...
A ira primeira da dama, rosa branca ao luar
temendo a vontade branda do sexo inteiro
do mero sexo,
para depois,
                    em teu peito repousar...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

επιθυμία βέβηλος


Como insistes em sobrepujar o encaixe perfeito de Deus?
A silhueta compatível às asas,
a métrica e o suplício das formas...
Todos os corpos em unção divina.
Como ferir as odes primárias dos anjos
Deixando os lírios aviltados e,
Lascivamente, pregar o pacto grotesco de satã?
Suores e suores yang...
As barbas impregnadas de desejo
E o meu grito de lamento...
Como insistes em fazer-te caos ora deformada a criação
E à criação rogar compaixão, com velas negras?
Das cinturas espalmadas e retas
E o meu grito de lamento ecoa brando, quase cansado
Ora o espelho haveria de mostrar-me Zeus
E o regozijo dos deuses
As áias quase ninfetas chorando e clamando
Desatinadamente, nuas sem corpos másculos a esquentá-las...
E o Ying solitário, o desafeto cabalístico do sexo
dos sexos chagados e profanados.
Ora, profanos ora encarnados
E o princípio por Deus descrito, rompe-se, lentamente...
Vai agora ao som das letras byronianas...
Todos os mortos em circunspectos pútricos
Regados a absinto e buquês de pequenas papoulas...
E o meu grito perdido, desatado dos céus, não finda
Porque hei de pressentir o triste pacto declinando-se ao amanhecer
Quando os corpos despertam menos ébrios
E a garganta, os pulmões ainda exalando pecados
Vem conhecer a tristeza e palidez de suas verdadeiras peles...
O grito (deles) profundo, preso no tempo único
Não vem emanar-se como meu grito solene...
Pois que rigidez dos músculos os impelem ao malfadar das horas
E desalentados caem por terra, secos,
Do Parthenon às milícias celestes
A que somente algumas chagas de Freud romperiam singelas
Os vícios e malogros de uma pouca vida.
Mas que desejo mordaz este de viver o ‘tudo’ tão intenso e desesperadamente?
E , agora, se restam poucas horas,
que suas vestes e seus desejos inconcebíveis,
arrastem-se dilacerados, escarlates, molhados
Pelas lágrimas de sangue derramadas pelos Arcanjos de Deus!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O PACTO - 'DE UMA PAIXÃO SOBRE-HUMANA' I

         

Era bem jovem e irremediavelmente atraente. Vinte e poucos anos. Beirar os 30 seria obsoleto e desarmonioso constatar.
Pensou em se matar, sem versos pobres de Fernando Pessoa, porque talvez a dor das perdas instantaneas e atrozes, nem mesmo o poeta dúbio saberia e comportaria em sua alma.
Amava um, enamorara-se de outros poucos...Muitos o suficiente para cravarem um punhal contra seu peito e fazerem sangrar intensa e lentamente o coração. O verdadeiro amor, perdera pela dimensão e profanação do tempo. Profana-ação que desencadearia na jovem, cheia de vidas e laços, um instinto maior de sobrevivência. Ora entre Deus e suas velas acesas: Nossa Senhora no encalço brando e alguns pedidos precedidos de Luz! Ora Luz se apagava e vinha Satã com suas farpas agonizantes e dolorosas. A voz de mil homens sedutores e calmos:

-Venha, minha Dama! Aqui em meus braços serás feliz!

A jovem resistia porque aos olhos da mãe e do pai, já cansados da amargura da filha, entendia-os com pesar e dor sobre-humana. A própria filhinha dizia entre horas de descanço e paz:
-Tu és a mais linda das flores, mamãe!

Mas a jovem teimava em vibrar no tempo uma paixão sem rédea dos céus. Afogara-se nos instintivos e demoníacos nós de Lúcifer. Lúcifer era um bonito nome e parecia-lhe aprazível tê-lo como mentor... O Anjo das tempestades! Arrependimento imperdoável...

Rolava na cama várias noites. De companhia, somente o cãozinho trazido pelo ex-marido e imposto contra a vontade da família. Para a jovem, o amigo que ela não encontrava há tempos. O cãozinho passou a sentir as dores, as lágrimas e creio, deveras, que ele sentia ora Deus ora o inimigo rodeando os pensamentos da jovem desolada.

Blasfemava, tentava barganhar a alma por nehum valor! De nada adiantavam as velas acesas, as noites chorosas e lastimáveis no ombro do melhor e mais fiel amigo (desta vez, não o cãozinho);
mas um menino, mais homem que qualquer mortal, que lhe prometera amor eterno e incondicional.
Chorava com ela pelo militar errante, distante e irrevogável.
Chorava pelos instantes de fúria e desterros da mulher amada.
Choravam juntos e tentavam buscar solução.
A solução viria somente a ser o silêncio. Silêncio oportuno e brando, fiel apenas àquelas horas de colo e conforto.
O marido, esquecera! Como se esquece um retalho mal cortado.
Agora seria outro. Justamente aquele impróprio e desafetuoso.
Por ele guardou broquéis, puras sedas, lingeries caríssimas e os perfumes mais puros... Por ele, TUDO e dele um sonoro e mortificante NADA! Telefonemas amenos, pela educação imposta aos militares. Uma mensagem e só. Dizia a metade de quase tudo que ela poderia desejar ouvir nos rompantes apaixonados...
Viria o dia da morte que os amigos infiéis aguardavam? Viria os podres e pobres versos de Fernando? Fernando Pessoa em crivo e Fernando (o militar) em pensamentos...
Foi-se pactos e amuletos...
Noites escuras e nebulosas de lágrimas...
E nenhum destino à vista!
Desgraçados Fernandos...
Se pelo menos, calassem os dois ou deles viessem as palavras necessárias...
Mas ainda esperava ela, em Cristo, e por Ele pedia que pudesse queimar todo o mal do Amor ou consumar seus desejos. Mas Cristo não rabisca caminhos sinuosos, tortuosamente bélicos...
Voltava, então, para cama, todas as noites, com a alma vazia e cansada de sonhar e esperar em vão. A maquiagem borrrada pelas enchentes de lágrimas...
Os dias passavam escuros...
As noites, macabras...
Somente um Anjo de Luz para colher suas preces e por mais que Ele tentasse colher, ela não haveria de enxergar...
Nunca haveria! Enquanto no peito 'direito' e esquerdo batessem mais fortes os beijos implícitos e ainda desejáveis de treze anos atrás...
Nem Anjos de luz nem anjos da noite poderiam ser maiores que as trombetas profanas daquela paixão. E enquanto esta não se consumasse inteira e puramente, o fogo arderia sem cessar. Sem cessar na alma e no peito Dela. Pura e simplesmente!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Teus olhos...


                                                      
Teus olhos...
Negros a queimar-me os véus dos pudores mais altos
a fronte inclinada mas Onix negra  a fitar-me, os olhos somente e os raios das matizes mais lúgubres
Negros a devorar-me, ainda não despida, e a despir-me ora entre sede ora violentamente
Negros e, ao mesmo tempo, castos daqueles sonhos debutantes e amenos que deixei para trás
tão Negros que faziam da noite a menor estrela!
Negros e quentes como o sol nos trópicos a queimar pele e sentidos...
Perdida e humilhada pelo ardor da obscuridade, do medo
perdida pelos teus e somente pelos teus inteiros olhos Negros, ávidos
numa espécie de invocação profana que consome alma e espírito inteiros...
Negros a olhar-me grata, a molhar-me secretamente, desvelando-me os desejos mais impuros e perversos...
Negros, à seda, fina a afagar-me entre os seios e o sexo...
Negros, adorando-me nua e envolta em tules sagrados...
Negros queimando o que de pouco alíviava, nutria meu espectro encarnado...
Agora e sempre, Negros, teus olhos e teus ensejos e tuas doces palavras peremptórias
de uma noite apenas, menos Negra, tão intensa quanto teu olhar...
Toma-me e nos rumores eloquentes da noite chama-me tua, única vez tua...
Meus únicos olhos de perdição eterna...
Caminho sem volta...
Seol em chamas...
Que ardam, então, nossos corpos
na travessia exacerbadamente densa do Aqueronte, olhos de fogos Negros...
rumo, à alma e meus pecados, sejam guardados em segredo por Caronte!
Do mal a que adentrei-me a  teus olhos negros e por eles dei-me à Hades...
Negros e mortais...
Eternamente!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quem, além de você?


Foi só um sorriso e foi por amor
Nenhuma ironia, não foi por mal
Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal

Por trás das palavras, da raiva de tudo
Sorri pra tentar chegar em você
Foi como fugir pra nos proteger
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Porque

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão
Foi só um sorriso e foi por amor
Te juro do fundo do coração

Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Deixa isso passar, e quando passar
Vou estar aqui te esperando
Pra te receber
E sorrir feliz dessa vez
Que esse amor é tanto

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

(Leoni)