segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Apenas sinta...


espera-se tempos, em palavras, definir AMOR

e desta espera, tudo que possa exumá-lo, expô-lo visceral e desesperadamente...

espera-se compô-lo à paixão, destrinchando-os às igualdades e diferenças...

e nem mesmo os céus se abrem em desenlance para respostas

nem infernos deixam de curvar-se perante tal sentimento

porque dos sais, o mais forte, doce-amargo, que um ser pode provar.

porque mesmo nas trevas existe e em luz resplandece,

conhecendo nossos anseios e nossas vontades mais íntimas.

espera-se ao AMOR pôr fim, quando arde e queima, e nele atear chamas

porém, incapaz, até as sombras, consumá-lo, findando-o em pó...

A única pena perpétua e mortal de cada um de nós,

o único movimento a não desencadear-se aos ventos...

Pois dado ao AMOR a sorte, margens a abismos, nelas trepida, mas nunca resvala...

Dentro de uns milhares de corações, avilta e morde, fazendo-os sangrar

mas às mesmas almas, tece, silencioso e cheio de danos...

tornando-as menores diante de seu poder...

transformando aos homens que buscam afastá-lo...

entrelaçando destinos tão opostos...

e, desejosos ou não, faz-nos crer n'algo que

se antes posto mortal... Ora revive-nos ora mortifica-nos...

Eternamente!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Estaremos...



A luz de infinitas estrelas,
teus olhos a fitarem-me, silenciosos...
Sem palavras lindas escrevo-te
para dizer nada que já não saibas
que onde estiver meu coração
lá estarás, inteiramente, o teu olhar diante mim...
Que onde estiver minh'alma, estará a tua luz aquecendo-a...
Ou, universos, mundos distantes,
ainda, e completos, permaneceremos em união astral.
Dei-te meu breve e farto coração, calada,
quando não esperavas
entreguei-te mais que a mim...
a vida e seu percurso instável...
a vida inteira e meus mais sóbrios segredos!
Mesmo sozinha, tu estarás...

sábado, 27 de novembro de 2010

Às vértices...

                                                          Oh, boy, you've left me speechless...


Desejei as vertigens de Rimbaud,
todas de uma só vez sem juízo
e o preço a pagar pelos excessos?
caríssimas mudas de sonhos,
o prejuízo d'alma inteira...
Desgraçada fui!
Ousei tocá-lo adentrando-me
do lado errôneo, e os beijos?
noites, agora, sem fins
e findado o coração aos gritos,
pulsa nas veias, morno e desatinado
o sangue em pecado e dano...
Por que deste-me tais beijos?
Por que escolheste, das flores, a menos duradoura?
Porque seguiste meu olhar a prumo e
em explosão calou meu mundo...
Ouso dizer-te, tudo e pouco mais...
Foste tempestade afetuosa e densa
nuvens e nuvens de lágrimas derramo
e inda que insisto e reclamo
não lograrei respostas...
Pois das incógnitas inscritas
tu és, dúbio, a mais sacra...
Ainda que eu ouvisse as melódicas vértices de Byron
e cantasse-as uma a uma, das letras
a poética grotesca, ôca entraria em desvario
e consumiria meus dias, as horas fulgazes
e teu dorso só em sombra e desejo
fugiria aos meus dedos e unhas largas...
Teu nu e bélico corpo em plácido sono
o meu desejo intenso, a sede voraz de um coiote às pressas
com as prêsas afiadas à carne viva, marcada
sem ódio, pudor ou temor
dei-me ao desalento da noite escura, neblinada
uma vez mais que não foste meu e n'outras
quis morrer viva...
 Mas acaso não creio em votos de luz
à luz e meia deste céu que encontra-nos
com teu olhar sangrando a receios púdicos
e a razão do macho transversal à espreita
deixa-me tonta e perdida pra um sempre...
Antes viesse-me nas madrugadas
e ousasse puramente,
crucificando minhas vontades,
este anseio tôlo em desejar-te mais
sabendo que me olhas com dúvidas incabíveis
com estes olhos quase negros, ora infantes,
mas inteiramente postos à caça...
Nestes segundos, ao receptáculo da rosa...
A ira primeira da dama, rosa branca ao luar
temendo a vontade branda do sexo inteiro
do mero sexo,
para depois,
                    em teu peito repousar...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

επιθυμία βέβηλος


Como insistes em sobrepujar o encaixe perfeito de Deus?
A silhueta compatível às asas,
a métrica e o suplício das formas...
Todos os corpos em unção divina.
Como ferir as odes primárias dos anjos
Deixando os lírios aviltados e,
Lascivamente, pregar o pacto grotesco de satã?
Suores e suores yang...
As barbas impregnadas de desejo
E o meu grito de lamento...
Como insistes em fazer-te caos ora deformada a criação
E à criação rogar compaixão, com velas negras?
Das cinturas espalmadas e retas
E o meu grito de lamento ecoa brando, quase cansado
Ora o espelho haveria de mostrar-me Zeus
E o regozijo dos deuses
As áias quase ninfetas chorando e clamando
Desatinadamente, nuas sem corpos másculos a esquentá-las...
E o Ying solitário, o desafeto cabalístico do sexo
dos sexos chagados e profanados.
Ora, profanos ora encarnados
E o princípio por Deus descrito, rompe-se, lentamente...
Vai agora ao som das letras byronianas...
Todos os mortos em circunspectos pútricos
Regados a absinto e buquês de pequenas papoulas...
E o meu grito perdido, desatado dos céus, não finda
Porque hei de pressentir o triste pacto declinando-se ao amanhecer
Quando os corpos despertam menos ébrios
E a garganta, os pulmões ainda exalando pecados
Vem conhecer a tristeza e palidez de suas verdadeiras peles...
O grito (deles) profundo, preso no tempo único
Não vem emanar-se como meu grito solene...
Pois que rigidez dos músculos os impelem ao malfadar das horas
E desalentados caem por terra, secos,
Do Parthenon às milícias celestes
A que somente algumas chagas de Freud romperiam singelas
Os vícios e malogros de uma pouca vida.
Mas que desejo mordaz este de viver o ‘tudo’ tão intenso e desesperadamente?
E , agora, se restam poucas horas,
que suas vestes e seus desejos inconcebíveis,
arrastem-se dilacerados, escarlates, molhados
Pelas lágrimas de sangue derramadas pelos Arcanjos de Deus!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O PACTO - 'DE UMA PAIXÃO SOBRE-HUMANA' I

         

Era bem jovem e irremediavelmente atraente. Vinte e poucos anos. Beirar os 30 seria obsoleto e desarmonioso constatar.
Pensou em se matar, sem versos pobres de Fernando Pessoa, porque talvez a dor das perdas instantaneas e atrozes, nem mesmo o poeta dúbio saberia e comportaria em sua alma.
Amava um, enamorara-se de outros poucos...Muitos o suficiente para cravarem um punhal contra seu peito e fazerem sangrar intensa e lentamente o coração. O verdadeiro amor, perdera pela dimensão e profanação do tempo. Profana-ação que desencadearia na jovem, cheia de vidas e laços, um instinto maior de sobrevivência. Ora entre Deus e suas velas acesas: Nossa Senhora no encalço brando e alguns pedidos precedidos de Luz! Ora Luz se apagava e vinha Satã com suas farpas agonizantes e dolorosas. A voz de mil homens sedutores e calmos:

-Venha, minha Dama! Aqui em meus braços serás feliz!

A jovem resistia porque aos olhos da mãe e do pai, já cansados da amargura da filha, entendia-os com pesar e dor sobre-humana. A própria filhinha dizia entre horas de descanço e paz:
-Tu és a mais linda das flores, mamãe!

Mas a jovem teimava em vibrar no tempo uma paixão sem rédea dos céus. Afogara-se nos instintivos e demoníacos nós de Lúcifer. Lúcifer era um bonito nome e parecia-lhe aprazível tê-lo como mentor... O Anjo das tempestades! Arrependimento imperdoável...

Rolava na cama várias noites. De companhia, somente o cãozinho trazido pelo ex-marido e imposto contra a vontade da família. Para a jovem, o amigo que ela não encontrava há tempos. O cãozinho passou a sentir as dores, as lágrimas e creio, deveras, que ele sentia ora Deus ora o inimigo rodeando os pensamentos da jovem desolada.

Blasfemava, tentava barganhar a alma por nehum valor! De nada adiantavam as velas acesas, as noites chorosas e lastimáveis no ombro do melhor e mais fiel amigo (desta vez, não o cãozinho);
mas um menino, mais homem que qualquer mortal, que lhe prometera amor eterno e incondicional.
Chorava com ela pelo militar errante, distante e irrevogável.
Chorava pelos instantes de fúria e desterros da mulher amada.
Choravam juntos e tentavam buscar solução.
A solução viria somente a ser o silêncio. Silêncio oportuno e brando, fiel apenas àquelas horas de colo e conforto.
O marido, esquecera! Como se esquece um retalho mal cortado.
Agora seria outro. Justamente aquele impróprio e desafetuoso.
Por ele guardou broquéis, puras sedas, lingeries caríssimas e os perfumes mais puros... Por ele, TUDO e dele um sonoro e mortificante NADA! Telefonemas amenos, pela educação imposta aos militares. Uma mensagem e só. Dizia a metade de quase tudo que ela poderia desejar ouvir nos rompantes apaixonados...
Viria o dia da morte que os amigos infiéis aguardavam? Viria os podres e pobres versos de Fernando? Fernando Pessoa em crivo e Fernando (o militar) em pensamentos...
Foi-se pactos e amuletos...
Noites escuras e nebulosas de lágrimas...
E nenhum destino à vista!
Desgraçados Fernandos...
Se pelo menos, calassem os dois ou deles viessem as palavras necessárias...
Mas ainda esperava ela, em Cristo, e por Ele pedia que pudesse queimar todo o mal do Amor ou consumar seus desejos. Mas Cristo não rabisca caminhos sinuosos, tortuosamente bélicos...
Voltava, então, para cama, todas as noites, com a alma vazia e cansada de sonhar e esperar em vão. A maquiagem borrrada pelas enchentes de lágrimas...
Os dias passavam escuros...
As noites, macabras...
Somente um Anjo de Luz para colher suas preces e por mais que Ele tentasse colher, ela não haveria de enxergar...
Nunca haveria! Enquanto no peito 'direito' e esquerdo batessem mais fortes os beijos implícitos e ainda desejáveis de treze anos atrás...
Nem Anjos de luz nem anjos da noite poderiam ser maiores que as trombetas profanas daquela paixão. E enquanto esta não se consumasse inteira e puramente, o fogo arderia sem cessar. Sem cessar na alma e no peito Dela. Pura e simplesmente!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Teus olhos...


                                                      
Teus olhos...
Negros a queimar-me os véus dos pudores mais altos
a fronte inclinada mas Onix negra  a fitar-me, os olhos somente e os raios das matizes mais lúgubres
Negros a devorar-me, ainda não despida, e a despir-me ora entre sede ora violentamente
Negros e, ao mesmo tempo, castos daqueles sonhos debutantes e amenos que deixei para trás
tão Negros que faziam da noite a menor estrela!
Negros e quentes como o sol nos trópicos a queimar pele e sentidos...
Perdida e humilhada pelo ardor da obscuridade, do medo
perdida pelos teus e somente pelos teus inteiros olhos Negros, ávidos
numa espécie de invocação profana que consome alma e espírito inteiros...
Negros a olhar-me grata, a molhar-me secretamente, desvelando-me os desejos mais impuros e perversos...
Negros, à seda, fina a afagar-me entre os seios e o sexo...
Negros, adorando-me nua e envolta em tules sagrados...
Negros queimando o que de pouco alíviava, nutria meu espectro encarnado...
Agora e sempre, Negros, teus olhos e teus ensejos e tuas doces palavras peremptórias
de uma noite apenas, menos Negra, tão intensa quanto teu olhar...
Toma-me e nos rumores eloquentes da noite chama-me tua, única vez tua...
Meus únicos olhos de perdição eterna...
Caminho sem volta...
Seol em chamas...
Que ardam, então, nossos corpos
na travessia exacerbadamente densa do Aqueronte, olhos de fogos Negros...
rumo, à alma e meus pecados, sejam guardados em segredo por Caronte!
Do mal a que adentrei-me a  teus olhos negros e por eles dei-me à Hades...
Negros e mortais...
Eternamente!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quem, além de você?


Foi só um sorriso e foi por amor
Nenhuma ironia, não foi por mal
Foi quase uma senha pra te tocar
Nem foi um sorriso, foi um sinal

Por trás das palavras, da raiva de tudo
Sorri pra tentar chegar em você
Foi como fugir pra nos proteger
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer
Porque

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Ninguém tem razão, tenta me entender
E a gente é maior que qualquer razão
Foi só um sorriso e foi por amor
Te juro do fundo do coração

Foi como tentar parar esse trem
Com flores no trilho e acenar pra você
Parece absurdo, eu sei, mas tentei
Enquanto eu sorrir ainda posso esquecer

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

Deixa isso passar, e quando passar
Vou estar aqui te esperando
Pra te receber
E sorrir feliz dessa vez
Que esse amor é tanto

Quem vai te abraçar?
Me fala quem vai te socorrer
Quando chover e acabar a luz
Pra quem você vai correr?
E quem vai me levar
Entre as estrelas, quem vai fazer
Toda manhã me cobrir de luz?
Quem, além de você?

(Leoni)

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Conversa com Deus...

                                

                                                                                                 (ao meu Anjo...)

Resolvi, apesar do peso das lágrimas, sentar ao lado de Deus e pedir um momento de sua atenção. Andei considerando-me esquecida por Ele. Andei em tão densas nuvens de mágoas e tristezas! Resvalei-me dias e dias pensando, até mesmo, na morte. Pedi a Ele um tempo e uma chance para a felicidade. Eu costumo achar a felicidade algo difícil e tão imperceptível! Inalcançável, de fato.

Chorei e choro longamente. Exerço uma prática tamanha ao cair destas lágrimas. É como se todas já me parecessem tão costumeiras e agradavelmente inebriantes. Mas não são... São amargamente mortais. É minha alma, pouco a pouco, indo embora, dizendo um sonoro e clemente Adeus!

Mas, entre águas amargas ora doces, lembrei-me de alguém...

Como poderia pedir a Deus uma chance para a felicidade se a maior foi-me dada por Ele e eu não pude enxergar?

Como passou-me insensivelmente o fato Dele ter entregado à minha vida, um Anjo?

Pedi a Ele tanto, sendo que eu já o possuía...

Lembrei-me de ti! Sim... Ele te mandou para mim.

Não houve momento em que tu não estivesse aparando minhas lágrimas e desejando o meu sorriso.

Em todos os segundos desde que te conheci tu foste luz em minha vida. Não há dor ao teu lado. Não há desespero... Há uma abundante e sóbria paz, um carinho nunca antes sentido, uma incontrolável força interior.

Sim, Deus deu-me alguém e agora eu sei seus motivos.

Deus entendia meus caminhos e saberia o quanto eu sofreria se tivesse que trilha-los sozinha e humilhada. Então Ele entregou-me um anjo.

Onde quer que eu esteja, o que quer que eu diga ou pense... Tu iluminas e reveste-me com tamanha glória.

Quais espinhos e pedras eu pisar, por vales escuros em que eu chorar, nas tempestades, no medo terrível e até mesmo na morte, tu estarás ao meu lado e eu posso enxergar o teu Amor por mim. Posso ver o quanto o teu sentimento cura-me e reergue-me para a vida.

Louvo a Deus e o louvarei, eternamente, por ter-me confiado um dos seus. Agradeço a Ele pela luz do teu olhar que ilumina o meu nas noites sombrias... Agradeço a Ele por ouvir tua voz quando o que mais desejo é silenciar-me para sempre... Agradeço a Ele por todos os segundos que tu estás ao meu lado oferecendo-me esperança quando toda a minha vida parece destruída... Agradeço a Ele por tantas palavras de paz e conforto quando a mais intensa tempestade toma minh’alma... Agradeço a Ele pelas tuas mãos cobrindo as minhas nas manhãs e noites em que eu me encontro sozinha e frustrada... Agradeço a Ele pelo teu abraço quando o mundo vira as costas para mim... Agradeço sinceramente!

E eu que não acreditava mais em um amor maior que o mundo. Destes amores que seguem além da vida... E, exatamente, um destes me foi entregue.

Hoje e sempre... Sou grata ao meu Senhor por ter conhecido-te e, imensamente feliz, por amar-te tão pura e verdadeiramente.

Somente tu podes trazer vida para a minha pouca vida e luz para o meu caminho, antes tão árduo.

Meu Anjo e meu presente mais valioso tu és! Pra sempre!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

'- quem bate?'



n'algum ladrilho mais curto, naquele exato que não caberá meu passo
de vão em vão, entre dois ou três, prospero
num deboche meio amargo que voa para longe da lucidez
e entre estas lágrimas que vão gotejando pelo caminho.
as mãos,
os pés e tudo, então
tocando e apalpando a escuridão
dentro e fora d'alma
ao lado e diante daquilo mesmo que não sou.
não chegarei a ser...
coisa pequena!
questão de segundos para pisar fora ou dentro e perco a linha.
a linha é meu esboço para o mundo
pois nela eu moro, inconstante, e nunca piso
se piso, morro!
um, dois, três pulinhos e Santa Dinfna segura.
Hora de ir
no silêncio, enquanto ele habita ao redor
e, mesmo indo, não piso.
depois dos números ímpares, a claridade
e mato, mato o tempo e o que há nele.
nunca me satisfaço
e se, vez ou outra, o chão inclinar-se,
vou descalça, dedos presos com gosto.
que declínio!
espantosamente entediante.
envia-me, Deus, cura imediata ou valha-me!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

depois da marcha nupcial...

 
 
Seu lugar é ao meu lado
Até que Deus queira
Hoje saberão quanto eu te amo
Quando finalmente seremos dois

Eu nunca estive tão seguro
De amar assim sem condição
Olhando para você, meu amor te juro
Cuidar sempre da nossa união

 
Hoje eu lhe prometo amor eterno
Ser para sempre tua, no bem e no mal
Hoje eu demonstro o quanto te quero
Amando-te até o meu fim

A melhor coisa que me aconteceu
Foi ver você pela primeira vez
E estar assim de mãos dadas
Este é o amor que eu sempre sonhei


Hoje eu lhe prometo amor eterno
Amando-te até o meu fim!
 
(Il Divo)

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

dilacerante...


Não imagino que estás sozinho, agora.
não penso em nada mais senão num homem, inteiramente nu e absorto em seus pensamentos obscuros.
estás onde? aonde? aqui, há tempos, não!
é quando tento enxergar além do vão da porta e escutar teus passos aproximando-se de mim.
já era a felicidade de ter você todas as noites, tão perto. doce e, ao mesmo tempo, selvagem.
é! acostumei-me à esta grossa maneira que tens de lidar com o que cerca-te.
hoje, é nada e nada mais senão chorar esperando tua volta.
teu corpo e teu sorriso triste.
teu dorso e teu falar ríspido.
és tudo que lembrarei para sempre, antes de tentar dormir e sonhar.
e sonharei contigo!
e povoarei-me destes sonhos estranhos, espelhados e tão nitidamente marcados...
encontrarei-te em todos eles.
n'alguns serás violentamente menino e n'outros, tristemente, homem...
tua tristeza exacerbada abala-me previamente.
era nas manhãs ao teu lado, quando, ainda dormindo, podias sorrir, calado. somente!
a tua lucidez pouco eventual torna-te errôneo e escandalosamente avesso a sentimentalismos.
tua lucidez faz de ti um ser pouco normal...
exageradamente amargo.
serás assim para sempre. penso.
não podes ver, ouvir ou sentir o amor.
o amor para ti é aquele fardo profano que queima aos poucos a alma humana.
e para ti mesmo, o que é a alma humana senão um odre raso?
o que seria o amor senão uma enfermidade humilhante?
homens verdadeiramente másculos não amam?
não!
tens assim, deste modo, olhado-me tanto surpreso,
 indagando secretamente se inda amo-te...
amo, sincera e desesperadamente.
ainda e sempre!

Profanação


Nunca me deste nada
fagulha de esperança entrelaçada
amordaçada entre os cacos cintilantes d'alma
deste-me o beijo pálido e sem feitiço
dos tempos sem claridade e mortos
a andar vagos pela sala escura e úmida...
deste-me o selo eterno da discórdia
aquela paixão que apagou-se com o menor arfar
o corpo cálido e demasiadamente cansado
atroz tão pouco fui e, retaliada pelo destino, não pude ver
que tanto fizeste frio, e calado, quando
entregaste-me apenas a lança da morte.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

epitáfio I - pedido



um gosto horrível, amargo de sangue vertendo à boca
um sangue negro que sobe do peito e exala medo
meus derradeiros medos
alguns sóbrios
outros embriagados de dor...
latente,
sufocante
gota a gota cai ao lençol
a maculada culpa
a única que não será expiada!
teu nome rabiscado à cabeceira da cama e um grito preso na garganta
teus gestos ponderados, teu beijo quente
amordaçados, atados em meu corpo para sempre!
vem ou volto para ti
sem perguntar porém...
ou deito-me e entrego-me à precoce e doce morte
neste instante lúgubre, onde morrem alma, coração, desejos
onde morro, a cada instante, sem tuas mãos a contornar as minhas
e sem teu sexo a completar minhas curvas...
nada mais existe!
só minha morte inconstante e solitária

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Desespero...

leia isso, a  meio oeste, onde o sol se põe, todos os dias, junto com o que sobrou da minha vida
leia isso antes que a morte chegue para um de nós e faça-nos crer que não houve amor e que já não há esperanças...
leia, desesperadamente, e lembre-se que a mais de oitocentos quilômetros há alguém que ama-te com fervor...
todos os segundos... eternos
todos os instantes de tua ausência... a maior dor do mundo...
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sempre tão só, se você não está comigo...
 

Não me peça para voltar
não apareça nunca mais em minha frente
não me olha com estes olhos de menino
porque nada em mim aguenta tanto castigo
porque tudo que eu vivi é forte demais para ser deixado
é a verdade encalacrada em minh'alma
chagada pelo corpo e espírito com a força de mil tornados
minha verdade meio oculta, meio atemporal
meu amor e meu zelo!
eternos...
__________________________________________
Depois disso, ainda digo...:

“Por que não chorei? Por que o deixei?” Você diria:
“Por que fiquei quieto aquele dia?” Simplesmente não sabia... 
(Phernanda)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

(não) será a última carta...


                                                                                                             
                                                                                                       
Por que esta mania urgente de amar, sempre, quem está tão distante?
e este medo emudecedor de querer o que nunca está ao meu alcance?
a última vez que eu te olhei, você parecia saber da verdade...
de uma verdade tão medíocre e insatisfatória, que nem eu mesma sei...
a última vez que você me beijou, senti que seria pra sempre findado um mal em minh'alma...
nada pode me amedrontar nestes dias terríveis e imponderáveis...
tudo parece ter chegado ao fim sem nenhuma explicação aceitável...
eu me deixei partir do seu lado, eu fugi do amor e por isso vou pagar a vida inteira...
porque você foi o único por quem senti uma espécie de amor pacífico e restaurador
você foi o único com quem me permiti sonhar coisas plenas e reais...
e foi também o único com quem me senti amada...
eu nunca me perdoarei por ter corrido, mais uma vez, para o lado escuro e sombrio...
eu não me perdoarei por ter deixado um amor que fechou minhas feridas e curou minhas cicatrizes...
eu morrerei a cada dia por causa desta sombra, desta fuga ridícula e inexplicável...
morro, desde o momento eu que olhei pra você pela última vez e não tive coragem suficiente de dizer sobre o meu amor e sobre nossa despedida...
um espinho na alma e na carne pior que muitos estilhaços
uma dor maior que muitas outras dores
ter deixado a oportunidade da felicidade, mais uma vez, escapar!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Carta para Kau...

                   

quero bem dizer que a amizade é um presente, destes que nos libertam dos carmas, de correntes.
anseio em  declarar-te, hoje, que anjos maiores e mais bem postos que ti não existirão no cosmos.
porque, de todas as luzes celestes, tu fostes, talvez, alguém que amei profunda e constantemente.
por isso dizem que os amores amigos superam os amores sensuais.
existirão, intrínsecos à vida, independente de barreiras e separações;
continuarão, se verdadeiros, a florescer, mesmo fora da época!
e persistirão às quedas e às ruínas temporárias...
meu Amor por ti, eterno e brando, renova minh'alma para o dia seguinte de hoje
e renova-me, exatamente, por ser mais espiritual que possa parecer.
tu és a AMIGA sagrada, equivale a tudo que busquei e nutri em vida.
e, assim, ao colher deste muito Amor divino é que torno-me mais humana...
tu és a aparadora de minhas lágrimas mais pesadas
e que fardo já carregou por segurar meus sonhos e não deixá-los partirem para sempre!
o quanto e constantemente já choraste junto a mim para que sozinha eu não viesse a ficar...
afugentou meus medos e me deu abrigo, refúgio ameno em teu coração...
e há aqueles que não creem em Deus...
crê, sim, se Ele manda-nos anjos envoltos em nuvens de glória e mansidão...
anjos como o que Ele mesmo deu-me de presente!
Tu fostes meu ANJO!
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Obrigado, Senhor, por tão grande dádiva!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Não!


Não! Sozinha, outra vez, não!
Justo quando o relógio marca 6:22;
a hora de amanhecer silenciosamente entre a vastidão que me espera.
a glória do momento; silêncio eterno, e corta minh'alma o grito dos feirantes.
que grande e sonoro ódio mortal devora-me o espírito exausto!
que imenso vazio é encontrar-me nua sem teu corpo para cobrir-me inteira.
quadras e quadras distantes...
uma vida para ser gasta. noites de lágrimas. noites e madrugadas.
ouça-me, agora, que eu falo branda: quero deitar-me ao teu lado e morrer de AMOR.
por anos e anos!
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Não, sozinha, outra noite, não!

Escuta...



Meu bem, eu não tenho culpa da tua queda e dos teus medos. Precisamente, destes medos banais que quebrantam tua alma, esta espécie de pavor mórbido de não ser aceito, de ser menosprezado, depois de tanto ter sido amado.
Sim, apesar deste charme irresistível e dos cabelos negros caídos sobre a face, tu não aceitas ser menos adorado que os outros. Mas exatamente isto faz de ti tão peculiar e ousado entre tantos. Teu jeito de entorpecer-me, calado e ameno. Tuas palavras ora ríspidas ora serenas e este olhar de quem pode tudo sobre o mundo. Já escrevi-te tanto e tão brutalmente nos muros, nas pedras, na carne... Gravei na pele e não arrependo-me, tu és meu primor e isto basta.
Devo dizer-te que tenho sido impiedosa, alguns outros já mexeram com meu coração, porém ele nunca foi menos teu. Meu coração, cortante, amordaçado... sempre foi teu e pronto!
Minh'alma, meu todo ser, inteiro quente ou frio, no escuro das noites ou na ávida luz das manhãs, buscam sempre teus passos, tuas estradas sinuosas e, vez ou outra, tuas culpas, teus anseios, teus pecados...
Por bem dizer, procuro-te em todos e tantos lugares...
Deus sabe o quanto e eternamente vago em busca de outro sorriso como o teu, de outras mãos lindas e planas, com uma linha da vida tão marcarda...
Tua linha da vida corta a minha do coração e vice-versa, num instintivo jogo de afeto e paixão...
Paixão mortal que rebenta vales...
Tenho dito e marcado o tempo da calmaria. Não durará.
Momento de voltar pros braços teus e meus dias terminam em guerra. Mas desta guerra excitantemente consubstancial tenho me afeiçoado grandemente e não sei mais viver sem ela.
Ah! Tu és tudo e talvez disto eu tenha fugido ferozmente. Fugi sempre e sem alcançar êxitos. Teus lábios e tua voz límpida me desumanizam. Me torno prêsa, crua... Num desejo atroz de ser devorada lentamente.
E nestes momentos de distância é que imagino teu corpo jogado sobre a cama, amarrotando meus lençóis brancos. Odeio tua bagunça organizada, odeio teu grito de desespero, tua farsa tão bem arquitetada e a ironia certeira. Odeio amar-te tanto e perder-me neste Amor insano. Mas anseio continuar. Continuar é meu fôlego. Bebo as vezes de teu ventre, tuas costas marcadas, a lombar tão bem desenhada. Que perdição, Deus meu! E minha boca corre solta, os dedos entre as coxas. Amo-te com louvor e com uma dor miserável. É chaga aberta... Um mal que não pode ser menos desejado.
Amo-te e isto aquieta-me. Não consigo desejar-te um pouco sequer. É sempre muito, intenso e voraz.
Tenho medo. Tanto medo de perder-te para sempre...
Ousada e louca em, mais uma vez, indagar-te: sou tua, sou tua e que queres mais?
Não espero resposta que encha a alma. Ouvir tua voz cortando meu corpo, glorifica-me já.
- Sim, sou tua até o último momento!
Apolo que tu és. Meu prazer e meu tormento derradeiro.
E meu Amor, escravizante e silencioso...
- Sou tua. Faz de mim o que quiseres...
E, de repente, teu ar triste, ao soprar entre os espectros que circundam-nos, responde-me, debochadamente:
-Também sou teu e teu somente!
Tu és, inteira e simplesmente, TUDO!

Ana Beatriz Figueiredo Mota Soares Resena

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Classificados

                          

o diário do dia veio nos dentes do cachorro Otho,
antes da manteiga no pão.
com letras maiores que um homem, escrito estava:
"ele pede que ela volte, urgente e discreta.
pede, ainda, que ela seja como antes,
na cama, ordinária
no banho, constante
nos jardins, perfumosa e casta..."
anúncio esquisito! tipógrafo debochado!
pensei antes de ver meu nome nos termos, assinado pelo amante.
-não volto e p(r)onto! ou volto pra ganhar o dobro de brilhantes!

Exatamente como é...

atenda o telefone, infeliz!
atenda e grita, ao menos, meu nome e "puta"!
pode ecoar nas alas quadradas
"sou tua puta mais ousada!"
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depois de jogar o copo na parede ocre, ficou estático e pálido, sete segundos.
sete segundos de vida, sete segundos de morte.
em sete segundos sentiu o mundo passar e chorou, calado.
em sete segundos, gozou solitário a dor dilacerante
e sofreu, calado.
em sete segundos, viu seus pecados de perto
o céu, escopo no papel e uma taça de martini.
e sorriu, calado.
em sete segundos, doze anos cabiam.
lembrou-se do sorriso dela
lembrou-se da marcha nupcial
lembrou-se do brinco prateado.
sete segundos, gelados: a mordaça do desejo!
correu os dentes nos lençóis, as lágrimas quentes
com uma 3x4 na carteira, deitado
em sete segundos, presente e passado.
teria um futuro?

das odes do professor pseudo-literata - caricatura no barroco

e lá vinha ele, mancando as palavras
entortanto as orações nas páginas dos Lusíadas
folhetins portugueses,  livros amarelados e secos
e lá vinha ele com um sonho no peito
mais dois na carteira e de lambuja, um santinho dobrado...
ele vinha len-ta-men-te morno e chato
proferindo aquelas odes insensatas
proferia e depois corria solto sem calças
caricatura rara, e um selo da USP no traseiro...
em negrito, caixa alta: Dr em alguma merda.
agora essa estória piadística, mais uma de suas mil.
vinha e sentava
trazia um lenço no bolso traseiro e um cravo-da-índia
agora, mais nada...
hoje aparece politicamente correto
com o mesmo deboche, mas luxuoso e altivo
e vem, esverdeado, em barroquinhos granfinos
d'uns santinhos pernetas que acumulam nas calçadas
lá vinha ele e agora vem danado, esmagando as lentes
famoso como bagre, na "tevelizão" em horário nobre
e os filhos gritam:
-Mãe, papai tá lá dentro!
Cá, sejamos gratos e ignorantes, nem sabemos quantos infantes
herdeiros o mestre roliço leva no currículo
mas quão espalhados estejam, votem
e joguem no bicho!
23, no urso e truco!
truco 4075 na cabeça de porco!
E lá vem ele de novo...

do fogo...

                                  

aos pés, suaves beijos e a saliva cálida
aos pés, como santa à devoção piedosa,
excitada, derramando o gozo
aos teus pés, meus beijos mornos
e os dedos, espalmando entre as cinturas nossas
em círculos bélicos de pecados e glórias
ao encontro do sexo teu, meu desabrochar de mulher.
beija-mas os pés e a panturrilha, baixa
beija-mas entre as coxas, com teus lábios rosa
e, ao emergir, entre as pernas
ao sentir-me habitada, beija-mas mais e mais
entre os seios, mãos e costas...
teus lábios e minha vertigem prazerosa
teus laços e meu impulsos nervosos, gozas
gozas tanto e também aos pés e leito
- eu sou tua!
grito e almejo...
teus dedos correm postos ao meu desejo.
e quando entras, manso e sereno,
num ardiloso gesto, ao acariciar os pêlos
após tão bruto, celeste lampêjo e desatas
ateando fogo ao meu segredo...
ritmicamente, ora alto ora ameno
soluçando meu nome, em prosa
deslizando teus dedos à rosa
encontrando-a, ao acaso... pétala por pétala
arranca-as com teus dentes!

amores...

descobri o segredo dos silenciosos
quando saem para devorar o ventre da noite
e mordem, calados, o tempo, o vazio
e somem com suas vestes escarlates, metálicas
cavaleiros das trevas, senhores do nada
quando voltam, assombram meus sonhos
quando partem, arrancam meu sono
o coração em decrépito, na espera amarga
o manto da Senhora já não toca minhas mãos
não acredito em Santos
já não oro em secreto
só o medo é conselheiro.
rendam-se, eu me rendo à entrega
quando eles vêem, vêm cobrindo as tropas do hades
com seus olhos em fogo e ferozes
punhais afiados e gritos prêsos
quando entram pelo grande portão, já não há
nunca houve salvação.
amores, amores... anjos da perdição!

MEU...




DESGRAÇADO DESEJO QUE FOI-ME PARECER ÓBVIO AOS OLHOS DE MENINA
PARA QUE A PERDIÇÃO SUSTENTASSE MEUS DIAS ATÉ A MORTE
CONSUMINDO TANTO A CARNE QUE ISOLOU A ALMA E A VIDA
RASGANDO EXCESSIVAMENTE O TEMPO DAS MATIZES MAIS INGÊNUAS
FOI UM MENINO, HOJE, UM HOMEM DO CORPO TORNEADO
MORENO, MÃOS E CURVAS SAGRADAS COMO OS CÉUS
E EU ME PERDI PARA SEMPRE, SEM VOLTA, SEM ARREPENDIMENTO
ELE FOI UM deus E MEU PECADO, RUÍNA
ELE FOI MEU deus E MINHA VIDA, PERDIDA
ELE É MEU deus E POR PROFANAR OS DIAS, MORRI EM DOR E DESATINO
ELE, AGORA, ESTÁ DISTANTE E MINHAS LÁGRIMAS, SANGUE E LAVA
INFERNO E PARAÍSO HABITAM-ME
VIOLENTAM MEUS MAIS SECRETOS ANSEIOS
ELE É TUDO, FIZ DELE MEU GRANDE MOTIVO
E POR FAZER DELE TUDO
TORNEI-ME UM IMENSO E DERRADEIRO nada!

Ser EU


Devassa em pensamentos
tantos que não cabem naquilo que esforço pra ser
meu dilema e atropelos, todos juntos
são uma farsa para quem assiste
tudo, o tempo todo, a mentira sangrando no mármore
a falta de fé inebriante e desatinada
e a busca sagrada do que eu nem sei onde encontrar...
não há nada e ninguém olhando meu destino
as mãos de Platão por prejuízo
o desejo esmerado no corpo masculino
a filosofia desabitada que criei pra não me perder, inteiramente!
e as pessoas passam caladas
num silêncio feroz dos santos
dos anjos que caíram e não tem morada
dos ventos que sopram cruzados, desmoronando as paredes greco-romanas
e tudo, mais uma vez, numa falsidade prudente e irremediável...
Irremediada como minh'alma
minha culpa de AMAR sem ser amada
tanta e tanta gente!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Carta de despedida


O bom é saber que nada foi em vão.
Meus tantos pensamentos, as lágrimas cortando madrugadas, espalmando-se ao chão
não, não foram em vão!
As canções ouvidas com ardor da alma, as noites em claro, minhas dores mais agudas
não, nada foi em vão!
Teu olhar queimando no meu, o ritmo bagunçado do teu coração, o sim, o não
e nem mesmo assim foi em vão!
Meus ímpetos de menina apaixonada, desejo de sentir-me amada, as horas passadas
não foram e nunca serão em vão...
Nossos beijos guardados, gravados no tempo... sorrisos, palavras
por Deus... não foram um pouco, sequer, em vão!
tuas mãos tocando minh'alma, a mais sagrada morada, meu pudor
vertigem, sexo e paixão...
nunca poderei dizer que foi em vão...
porque não foi...
acasos, princípios e precipícios...
tudo muito bem traçado...
acaso nunca é em vão
princípio, entremeios de livre-arbítrios
precipícios de minha perdição...
teu AMOR, eternizado e o meu, selados então
jamais serão em vão!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

o dia do fim do (meu) mundo

que puta sossego!
repudio o sossêgo!
odeio silêncio!
o silêncio farto dos domingos.
é sempre a mesma janela
o mesmo vento entrando sorridente
sem os dentes da frente,
atravessando as grades
atravessando as frestas
cortando a alma angustiada.
as ruas, as pessoas, os postes
sumiram
foram engolidos
mascarados
meu desejo, humilhado
domingo não é dia de gente!
é o pobre insone tempo
massacre dos ociosos
tumba dos trabalhadores
impertinência dos infantes...
---
na segunda
as ruas, as pessoas, os postes
são regurgitados !
---
odeio domingo e pronto!

elementos

ai de mim
quando tu me olhas!
o mundo dá voltas, voltas e cai
precipícios...
-------------------------------------

o Amor me pregou uma peça e foi embora. entrou pela porta da frente do peito e, depois, foi embora.
me deixou em pé, numa estação qualquer. foi embora, despedindo-se devagar. ensaiou um aceno e foi... quem sabe pra onde? quem sabe, Deus? pra onde? maldito! nem sequer dobrou os lençóis.

Pretexto


bombons...
um champagne... era natal!
algumas nozes...
e minhas mãos buscavam as tuas
ninguém poderia entender
o desespero do meu sentimento
para quem eu daria os bombons?
nem beberia o champagne
nunca gostei de nozes
tudo, sempre, um pretexto
e passavam silenciosamente...
enquanto passavam,
sem teus olhos fitarem os meus
os meus já devoravam-te urgentemente
nunca percebestes
nunca poderia imaginar
tamanha falta de termo...
se erguesse teus olhos, única vez
entenderia
que nunca houve bombons
champagne
nozes...
Algum motivo?
somente meus desejos, segredos
e nada além!

terça-feira, 27 de julho de 2010

da tua única...

É triste pensar que serás de outra
   pensar que serás de outra e não meu
              serás de outra distante, e eu me perderei
                       outra, porém, não amará teu corpo e teu desvario
                                 não saberá onde deslizar a língua, os dedos médios
                                        deslizar e repousar os lábios quentes
                                                     repousar os seios, após amar-te
                                                                   seios e calcanhares, entrelaçados...
                                                                            entrelaçar e recomeçar...
                                                                                            não, outra não saberá!
                                                                                                                                          
                                                                                                         

alvo-RECER

deito-me, a triste menina...
...
é que em meu sexo pede aconchego
as tuas mãos delineadas e grossas,
atravessando meu corpo como nau num oceano profundo
na-ve-gan-do, na-ve-gan-do
ora dentro ora fora
entre as coxas
entre os seios
mais deliciosamente imaturo e suave!
mas delicioso, garoto!
muito mais delicioso que pensei!
teu olhar excede minha culpa
e quando em teu beijo me perco
há saliva, escorrendo,
há o gozo derretendo-me aos poucos!
em teus pêlos alvos, colo alvo
meu alvorecer de mulher...
a virgindade que dei a outro
a pureza, enfim, desmistificada...
o orgasmo primeiro, beijo a nuca
o orgasmo segundo, beijo o dorso
o terceiro, beijo o céu e num grito, desejo
não perder-te de vista, nunca mais!
...
amanheço, a mulher magestosa!

das odes do professor pseudo-literata - II - devaneio

comia-me devagar e belicamente
daquela maneira triste e sem graça
com um olhar de ironia profundo,
debochado
olhos debruçados em meu decote
em minh'alma distante
lábios mornos, balbuciando inverdades, sofismas atrozes
aquela filosofia de butequim
palhaços de butequim, metidos em fraques negros...
e, num segundo, mais ociosamente
começou a escrever tolices e se dizer mestre, doutor do cacete
doutores que se deitam com o vazio da madrugada
violentam a palavra para torná-la alienada
tomam-na a essência e matam o resto
origem e prosa
a desgraça da beleza...
e meus colegas assistiam aquilo embasbacados
diante deles, idiotamente, um mago de araque
sonhando com orgias colegiais
e, assim mesmo, aplaudiam as apologias machadianas.
meu grito cortava o silêncio dos mundos alheios e dizia, áspero:
"filho da puta sossegado!mata-me, mas não mata Machado"
assis se revirou no túmulo com desprezo
até ele pôde ver o óbvio
daquele ridículo professor que colhia decotes e cinturas espalmadas
e fingia, desesperadamente mal, o manejo da palavra.
em devaneios quadriculava, suscinto:
-Maria, maria...
e mais NADA!

Outono



Teu beijo faz-me pensar num outono, entre as matizes verdes e caucasianas. Nossos corpos, vultos suntuosos, num fim de tempo expoente; cronologicamente, os beijos contados, quase roubados, desvelados no espaço para integrar-me plena e prazerosamente. Integrar-me é fato da entrega vaga que persiste adiando-se, para o bem da paixão subversiva, dos olhares sedentos d'um encanto que deixa-me fria e desarmoniosamente impulsiva.

Teu beijo, hoje, é o que evita que eu me perca. Enquanto tu estiveres, eu estarei; quando tocar-me, tocarei, desesperadamente, meu próprio ego, minh'alma, antes cega; nestas noites, sã, viva, ruborizada.

Não há amargo nos instantes das vertentes verdes-caucaso. As flores, inertes, se hão, presenciam a queda das folhas, oscilantes e mágicas. Quase escrevo com a ponta dos pés:

"Queres ser só meu?"

Mas as folhas mortas, ainda verdes, somem num redemoinho de ventos ilusórios e, efemeramente, respondem-me:

"Nada é pleno ou total..."

Mergulho na grama orvalhada, fazendo-me de anjo - o verde, o caucaso. A pele e os sentidos mornos à espera da tua pele e dos teus sentidos. Extasiados , aparentemente, seremos um do outro. Tão rápido quanto à vida, tão nebuloso o céu do quase outono. Letal, apaixonante, bravio...

As folhas, que ainda caem, cobrem-nos, inteiramente. Os beijos derramados, antes delicados e belos; num arfar maior, ferozes e persistentes.

Enumero, brevemente, os impulsos nervosos; focando a única flor encarnada, moça, solitária entre alguns galhos tortos.

Após, regresso ao beijo primeiro. Beijos e orvalhos misturam-se, unindo gotas e gotas. O suor, rastro do pseudo-pecado. O gozo, eternizado, fertilizará primaveras.

Voltarei para colher suas flores multiformes. E, se houver outras esperas, beijarei-te vezes mais. Á espera d'um verão rubro e fértil de esperanças.

désir


mordia a palma das mãos,
os dentes no pulso esquerdo,
esquecia o perfume borrifado por tardinha e sentia o amargo
o amargo do desejo.
vinte dias cantando francês
a professora, com os cabelos pintados de vermelho, as meias três-quartos cinza
um je t'aime bem soado e timbre seco,
fazia-me suar.
mal fadada conquista.
deixei de ser um rapaz vivo e apaixonei-me cedo.
nem sequer uma palavra bem posta,
antes um murmúrio e pronto!
mas ela cantava com as mãos à cintura
e, cerrando as pálpebras, levantava os pés.
menino ainda, eu sorria inerte e aprumado.
medo dela notar o desejo febril
meu desejo solitário
noites e noites, só e constante!

por que sexo dói? - I

À minha casta e puritana mãezinha, que me ensinou a repudiar os homens...
DESCULPA, MÃE, POR TER APRENDIDO, mais tarde, A SER TÃO FEROZ!
-----------------------------------------------------------------

não. eu não gostava de sexo. era um repúdio iminente e mortal
das noites, depois dos beijos.
das tardes, virgindade roubada à força e depressa.
sexo era a culpa de amar exacerbadamente.
era o ato reprimido de todo bruto ser.
eu pensava.
sentia um nó na garganta e cuspia quase seco.
vertiginosamente eu derramava lágrimas póstumas.
mais que de amor, de medo
pois não foi-me dado a conhecer o amor que traria a paz do corpo
fui obrigada a atormentar-me, aviltar lascivamente meu desejo
e, de repente, o desejo nunca existiu.
amargurado e solitário, foi embora entre as coxas
vertido às lágrimas que corriam após e tão somente, após o vazio.
mas viria a ser, ainda renovado, o fruto
quase proibido, quase intacto e urgente.
adormeci com meu primeiro desejo
à espera, diante d'um espelho embaçado!
não era amor. era casualmente doentio e anti-social.
não era desejo. foi caça. eu, a prêsa crua, derrapando entre a armadilha dentada e o abismo.
morrendo, morrendo aos poucos.

Súplica


Costumava entrar na igreja, ao final das tardes, e observar aquela mulher pálida, com a face coberta por um véu de tule alvo e, às vezes, perguntava-me quais seus motivos de tristeza e introspecção tão profundas.
Ela, ao findar das orações, tolhidas em lágrimas, caminhava até o altar dos ofertórios e acendia as velas já derramadas e mortas, uma a uma. O vestido escuro, porém não modesto, deixavam-lhe escapar as curvas do colo e o formato do pescoço... Longo, excitantemente translúcido.
Acendia as velas e percorria o caminho oposto da igreja. Por voltas das sete da noite, sumia pelas enormes portas de madeira sucupira. Viria, ela, outras e outras tardes mais?
Eu adormecia a pensar num suposto semblante que teimava em se esconder além do véu... Seria linda? Seria vêsga? Como seria a mulher que vertia lágrimas constante e incessantemente, a cada pôr do sol?
As costas lisas... Os cabelos presos, fios dourados a contrastar com as paredes da Catedral, roxas e sem vida.
Era a espera de minhas tardes de garoto. Esperá-la era meu ofício segundo, ao sair da imprensa local. Diagramava páginas, lia ofícios e publicava-os, sem erros ou protestos, mas não havia consciência pela qual pudesse enxergar além do pranto agudo e silencioso DELA.
Numa tarde de verão, após ajeitar a gravata matizada de verde, entrei por uma das portas laterais e sentei-me a uns dois metros da senhorita, que bem poderia ser uma senhora, embora as mãos, quando despidas das luvas, mostrassem pouca idade. Me aproximei aos poucos. Aos poucos e sutilmente.
Seu olhar firmava-se, sempre, para baixo, como se os pedidos de súplica moral fossem tão pecaminosos para que ela pudesse encarar o esplendor dos céus, morada divina. Naquela tarde contei as primeiras lágrimas. Começavam, sempre, brandas e finas e, de repente, mornas e grossas caíam sobre o encosto do banco. Debruçada, amarguradas lágrimas...
Quais segredos escondia um coração, aparentemente, tão frágil e doce?
Mais um segundo e quase coloquei tudo a perder. Num suspiro tomei a coragem e entrelacei-a de frente:
- Vens todas as tardes?- Testada a minha; ela permaneceu muda.
Prossegui:
-Vens e chora tanto... Tuas orações de certo podem ser ouvidas. Tenha certeza!
Num milagre ela ergueu-se e olhou para mim, por baixo do bendito véu. Cessou o pranto:
- O que estás a fazer? Conheço-o?
Engoli seco e prossegui, arrepiado e frenético:
- Conheço a senhorita da igreja! Não vens todas as tardes?
Ela mudou a direção do olhar e, pela primeira vez, parecia encarar o teto da catedral...
Silêncio quase mortal e vergonha em minh'alma caminhavam juntos...
Neste silêncio absurdo e farto, surpreendentemente, ela levantou o véu com delicadeza...
Pasmado e gélido, observei, quase em surto, os lábios róseos e bem desenhados, a face corada e, para perdição dos meus dias, por fim, olhos amendoados, vivos, de cílios fartos...
Tão linda e tão triste... Pensei: "O que esconde?"
Ela me olhou uma única e última vez e levantou-se:
- Queres entender, meu senhor, a alma d'uma mulher? Seus prantos e loucuras? Não entenderá!
Enquanto caminhava em direção à porta, batendo os finos saltos sobre a madeira ôca, fui atrás, sem pensar duas vezes.
- Pelo menos sua graça... Posso saber?
Ela sorriu-me, divinamente, um sorriso de anjo:
- Não saberás, meu senhor! Nunca...
Prosseguiu, enxugando as lágrimas:
- Porque não hei de estar aqui, algum dia, por nenhum outro sequer... Já me basta esta dor tamanha, que nasceu, exatamente, desta mesma pergunta que hoje me fazes...
Segurou as pontas do véu e voltou a cobrir a face de santa...
Ainda tentei:
- O meu nome é Ulisses!
Ela sorriu... Segredo profundo como quem sorri dizendo, aos poucos, que morre para esta vida. E saiu pela porta.
As badaladas do sino deixaram-me tonto e perdido. Sem querer, deixei-na ir.
Deixando-na ir, passei a suplicar a Deus seus regressos naquelas e n'outras tardes. Não houveram. Chegava a buscá-la, vez ou outra, da janela do pasquim, com uma esperança que nunca morreria.
A dama, simplesmente, não voltou. Não voltaria.
Mais tarde, pude entender. A maturidade deixou-me ver que o medo de amar faz com que a fuga seja iminente e precisa.
Triste, mais ao tardar, do final daquele mesmo ano, ao pegar ofícios e publicações a serem diagramadas para o dia seguinte, uma delas dizia:
"É com pesar que comunicamos o falecimento da Senhora Analice Magalhães de Tôledo Serrano , 26 anos, ocorrido na tarde desta sexta-feira. Nós, da escola Ministral Pereira Souto, manteremos luto por tão nobre amiga e mulher, que deixa dois filhos e espôso. Nossas mais humildes e sinceras condolências."
Meu peito explodiu ao ver a foto: os olhos claros, amendoados. Sem véu e cabelos soltos. O anjo das minhas tardes de verão. Morrera por quê? Talvez pelo fato de haverem findado suas lágrimas e, em nenhum braço, conseguir arrêgo para tanta dor? Fui eu o culpado de não haver insistido?
Carregarei este fardo e a lembrança insistente daqueles olhos marejados de tristeza profunda. Tinha espôso e filhos? Onde estariam eles naqueles longos fins de tarde entre prantos e súplicas?
Nunca haveria de entender. Não naquele momento com meus dezessete anos, quase perdidos. Talvez, por querer entender, sem saber exatamente, que poderia ter perdido a única mulher à qual amaria com afinco, com o maior amor do mundo. Talvez porque, intimamente, soube, naquele, instante, que poderia eu ter aparado suas lágrimas e amparado-a... Simplesmente, amando-a.
Simplesmente, sendo para ela aquele que ela tanto buscou e em lugar algum chegou a encontrar...
Hoje, eu sei: é verdade que se morre de amor ou da falta dele!
Uma única rosa branca, como foram seus mais tenros sonhos e desejos, foi a única coisa que pude entregá-la naquela manhã seguinte, depositada numa lápide tão fria e solitária. Talvez, tão fria e solitária quanto Analice, enquanto fingia viver de aparências.


das odes do professor pseudo-literata- I- desejo

um professor que quebrava o giz.
comia-os, cacos, farelos.
olhando-me, enaltecido, pensava em se matar.
nunca encontrara outro aluno, romanticamente problemático para matar seu tempo ocioso.
não encontrou Deus nas partidas inconstantes de dama.
sentado ao sol, sozinho e seco.
pregava a palavra com maestria como quem coloca sal na massa do pão.
e dobra, dobram os segundo e permanece o olhar intacto.
às vezes, quando os passos consumiam o piso
refletia algumas pornografias sem harmonia
um riso soluçante e morno
ah fora de hora.
e pensava em suicídio
rangia os dentes de raiva e tédio
nunca encontrou, antes, alguém que o encarasse com uma beleza contrária
permaneceu inerte até o último dia e depois sumiu.
não apareceu para o culto
esqueceu a colação de grau
se trancou num quarto laranja, fosco
e chorou com saudades d'uma senhorinha qualquer
diabos daqueles olhos
nunca encontrou outra aluno que o fez gozar
no silêncio da lítera
da palavra "velhacaria"!