quinta-feira, 26 de agosto de 2010

epitáfio I - pedido



um gosto horrível, amargo de sangue vertendo à boca
um sangue negro que sobe do peito e exala medo
meus derradeiros medos
alguns sóbrios
outros embriagados de dor...
latente,
sufocante
gota a gota cai ao lençol
a maculada culpa
a única que não será expiada!
teu nome rabiscado à cabeceira da cama e um grito preso na garganta
teus gestos ponderados, teu beijo quente
amordaçados, atados em meu corpo para sempre!
vem ou volto para ti
sem perguntar porém...
ou deito-me e entrego-me à precoce e doce morte
neste instante lúgubre, onde morrem alma, coração, desejos
onde morro, a cada instante, sem tuas mãos a contornar as minhas
e sem teu sexo a completar minhas curvas...
nada mais existe!
só minha morte inconstante e solitária

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Desespero...

leia isso, a  meio oeste, onde o sol se põe, todos os dias, junto com o que sobrou da minha vida
leia isso antes que a morte chegue para um de nós e faça-nos crer que não houve amor e que já não há esperanças...
leia, desesperadamente, e lembre-se que a mais de oitocentos quilômetros há alguém que ama-te com fervor...
todos os segundos... eternos
todos os instantes de tua ausência... a maior dor do mundo...
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sempre tão só, se você não está comigo...
 

Não me peça para voltar
não apareça nunca mais em minha frente
não me olha com estes olhos de menino
porque nada em mim aguenta tanto castigo
porque tudo que eu vivi é forte demais para ser deixado
é a verdade encalacrada em minh'alma
chagada pelo corpo e espírito com a força de mil tornados
minha verdade meio oculta, meio atemporal
meu amor e meu zelo!
eternos...
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Depois disso, ainda digo...:

“Por que não chorei? Por que o deixei?” Você diria:
“Por que fiquei quieto aquele dia?” Simplesmente não sabia... 
(Phernanda)

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

(não) será a última carta...


                                                                                                             
                                                                                                       
Por que esta mania urgente de amar, sempre, quem está tão distante?
e este medo emudecedor de querer o que nunca está ao meu alcance?
a última vez que eu te olhei, você parecia saber da verdade...
de uma verdade tão medíocre e insatisfatória, que nem eu mesma sei...
a última vez que você me beijou, senti que seria pra sempre findado um mal em minh'alma...
nada pode me amedrontar nestes dias terríveis e imponderáveis...
tudo parece ter chegado ao fim sem nenhuma explicação aceitável...
eu me deixei partir do seu lado, eu fugi do amor e por isso vou pagar a vida inteira...
porque você foi o único por quem senti uma espécie de amor pacífico e restaurador
você foi o único com quem me permiti sonhar coisas plenas e reais...
e foi também o único com quem me senti amada...
eu nunca me perdoarei por ter corrido, mais uma vez, para o lado escuro e sombrio...
eu não me perdoarei por ter deixado um amor que fechou minhas feridas e curou minhas cicatrizes...
eu morrerei a cada dia por causa desta sombra, desta fuga ridícula e inexplicável...
morro, desde o momento eu que olhei pra você pela última vez e não tive coragem suficiente de dizer sobre o meu amor e sobre nossa despedida...
um espinho na alma e na carne pior que muitos estilhaços
uma dor maior que muitas outras dores
ter deixado a oportunidade da felicidade, mais uma vez, escapar!

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Carta para Kau...

                   

quero bem dizer que a amizade é um presente, destes que nos libertam dos carmas, de correntes.
anseio em  declarar-te, hoje, que anjos maiores e mais bem postos que ti não existirão no cosmos.
porque, de todas as luzes celestes, tu fostes, talvez, alguém que amei profunda e constantemente.
por isso dizem que os amores amigos superam os amores sensuais.
existirão, intrínsecos à vida, independente de barreiras e separações;
continuarão, se verdadeiros, a florescer, mesmo fora da época!
e persistirão às quedas e às ruínas temporárias...
meu Amor por ti, eterno e brando, renova minh'alma para o dia seguinte de hoje
e renova-me, exatamente, por ser mais espiritual que possa parecer.
tu és a AMIGA sagrada, equivale a tudo que busquei e nutri em vida.
e, assim, ao colher deste muito Amor divino é que torno-me mais humana...
tu és a aparadora de minhas lágrimas mais pesadas
e que fardo já carregou por segurar meus sonhos e não deixá-los partirem para sempre!
o quanto e constantemente já choraste junto a mim para que sozinha eu não viesse a ficar...
afugentou meus medos e me deu abrigo, refúgio ameno em teu coração...
e há aqueles que não creem em Deus...
crê, sim, se Ele manda-nos anjos envoltos em nuvens de glória e mansidão...
anjos como o que Ele mesmo deu-me de presente!
Tu fostes meu ANJO!
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Obrigado, Senhor, por tão grande dádiva!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Não!


Não! Sozinha, outra vez, não!
Justo quando o relógio marca 6:22;
a hora de amanhecer silenciosamente entre a vastidão que me espera.
a glória do momento; silêncio eterno, e corta minh'alma o grito dos feirantes.
que grande e sonoro ódio mortal devora-me o espírito exausto!
que imenso vazio é encontrar-me nua sem teu corpo para cobrir-me inteira.
quadras e quadras distantes...
uma vida para ser gasta. noites de lágrimas. noites e madrugadas.
ouça-me, agora, que eu falo branda: quero deitar-me ao teu lado e morrer de AMOR.
por anos e anos!
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Não, sozinha, outra noite, não!

Escuta...



Meu bem, eu não tenho culpa da tua queda e dos teus medos. Precisamente, destes medos banais que quebrantam tua alma, esta espécie de pavor mórbido de não ser aceito, de ser menosprezado, depois de tanto ter sido amado.
Sim, apesar deste charme irresistível e dos cabelos negros caídos sobre a face, tu não aceitas ser menos adorado que os outros. Mas exatamente isto faz de ti tão peculiar e ousado entre tantos. Teu jeito de entorpecer-me, calado e ameno. Tuas palavras ora ríspidas ora serenas e este olhar de quem pode tudo sobre o mundo. Já escrevi-te tanto e tão brutalmente nos muros, nas pedras, na carne... Gravei na pele e não arrependo-me, tu és meu primor e isto basta.
Devo dizer-te que tenho sido impiedosa, alguns outros já mexeram com meu coração, porém ele nunca foi menos teu. Meu coração, cortante, amordaçado... sempre foi teu e pronto!
Minh'alma, meu todo ser, inteiro quente ou frio, no escuro das noites ou na ávida luz das manhãs, buscam sempre teus passos, tuas estradas sinuosas e, vez ou outra, tuas culpas, teus anseios, teus pecados...
Por bem dizer, procuro-te em todos e tantos lugares...
Deus sabe o quanto e eternamente vago em busca de outro sorriso como o teu, de outras mãos lindas e planas, com uma linha da vida tão marcarda...
Tua linha da vida corta a minha do coração e vice-versa, num instintivo jogo de afeto e paixão...
Paixão mortal que rebenta vales...
Tenho dito e marcado o tempo da calmaria. Não durará.
Momento de voltar pros braços teus e meus dias terminam em guerra. Mas desta guerra excitantemente consubstancial tenho me afeiçoado grandemente e não sei mais viver sem ela.
Ah! Tu és tudo e talvez disto eu tenha fugido ferozmente. Fugi sempre e sem alcançar êxitos. Teus lábios e tua voz límpida me desumanizam. Me torno prêsa, crua... Num desejo atroz de ser devorada lentamente.
E nestes momentos de distância é que imagino teu corpo jogado sobre a cama, amarrotando meus lençóis brancos. Odeio tua bagunça organizada, odeio teu grito de desespero, tua farsa tão bem arquitetada e a ironia certeira. Odeio amar-te tanto e perder-me neste Amor insano. Mas anseio continuar. Continuar é meu fôlego. Bebo as vezes de teu ventre, tuas costas marcadas, a lombar tão bem desenhada. Que perdição, Deus meu! E minha boca corre solta, os dedos entre as coxas. Amo-te com louvor e com uma dor miserável. É chaga aberta... Um mal que não pode ser menos desejado.
Amo-te e isto aquieta-me. Não consigo desejar-te um pouco sequer. É sempre muito, intenso e voraz.
Tenho medo. Tanto medo de perder-te para sempre...
Ousada e louca em, mais uma vez, indagar-te: sou tua, sou tua e que queres mais?
Não espero resposta que encha a alma. Ouvir tua voz cortando meu corpo, glorifica-me já.
- Sim, sou tua até o último momento!
Apolo que tu és. Meu prazer e meu tormento derradeiro.
E meu Amor, escravizante e silencioso...
- Sou tua. Faz de mim o que quiseres...
E, de repente, teu ar triste, ao soprar entre os espectros que circundam-nos, responde-me, debochadamente:
-Também sou teu e teu somente!
Tu és, inteira e simplesmente, TUDO!

Ana Beatriz Figueiredo Mota Soares Resena

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Classificados

                          

o diário do dia veio nos dentes do cachorro Otho,
antes da manteiga no pão.
com letras maiores que um homem, escrito estava:
"ele pede que ela volte, urgente e discreta.
pede, ainda, que ela seja como antes,
na cama, ordinária
no banho, constante
nos jardins, perfumosa e casta..."
anúncio esquisito! tipógrafo debochado!
pensei antes de ver meu nome nos termos, assinado pelo amante.
-não volto e p(r)onto! ou volto pra ganhar o dobro de brilhantes!

Exatamente como é...

atenda o telefone, infeliz!
atenda e grita, ao menos, meu nome e "puta"!
pode ecoar nas alas quadradas
"sou tua puta mais ousada!"
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depois de jogar o copo na parede ocre, ficou estático e pálido, sete segundos.
sete segundos de vida, sete segundos de morte.
em sete segundos sentiu o mundo passar e chorou, calado.
em sete segundos, gozou solitário a dor dilacerante
e sofreu, calado.
em sete segundos, viu seus pecados de perto
o céu, escopo no papel e uma taça de martini.
e sorriu, calado.
em sete segundos, doze anos cabiam.
lembrou-se do sorriso dela
lembrou-se da marcha nupcial
lembrou-se do brinco prateado.
sete segundos, gelados: a mordaça do desejo!
correu os dentes nos lençóis, as lágrimas quentes
com uma 3x4 na carteira, deitado
em sete segundos, presente e passado.
teria um futuro?

das odes do professor pseudo-literata - caricatura no barroco

e lá vinha ele, mancando as palavras
entortanto as orações nas páginas dos Lusíadas
folhetins portugueses,  livros amarelados e secos
e lá vinha ele com um sonho no peito
mais dois na carteira e de lambuja, um santinho dobrado...
ele vinha len-ta-men-te morno e chato
proferindo aquelas odes insensatas
proferia e depois corria solto sem calças
caricatura rara, e um selo da USP no traseiro...
em negrito, caixa alta: Dr em alguma merda.
agora essa estória piadística, mais uma de suas mil.
vinha e sentava
trazia um lenço no bolso traseiro e um cravo-da-índia
agora, mais nada...
hoje aparece politicamente correto
com o mesmo deboche, mas luxuoso e altivo
e vem, esverdeado, em barroquinhos granfinos
d'uns santinhos pernetas que acumulam nas calçadas
lá vinha ele e agora vem danado, esmagando as lentes
famoso como bagre, na "tevelizão" em horário nobre
e os filhos gritam:
-Mãe, papai tá lá dentro!
Cá, sejamos gratos e ignorantes, nem sabemos quantos infantes
herdeiros o mestre roliço leva no currículo
mas quão espalhados estejam, votem
e joguem no bicho!
23, no urso e truco!
truco 4075 na cabeça de porco!
E lá vem ele de novo...

do fogo...

                                  

aos pés, suaves beijos e a saliva cálida
aos pés, como santa à devoção piedosa,
excitada, derramando o gozo
aos teus pés, meus beijos mornos
e os dedos, espalmando entre as cinturas nossas
em círculos bélicos de pecados e glórias
ao encontro do sexo teu, meu desabrochar de mulher.
beija-mas os pés e a panturrilha, baixa
beija-mas entre as coxas, com teus lábios rosa
e, ao emergir, entre as pernas
ao sentir-me habitada, beija-mas mais e mais
entre os seios, mãos e costas...
teus lábios e minha vertigem prazerosa
teus laços e meu impulsos nervosos, gozas
gozas tanto e também aos pés e leito
- eu sou tua!
grito e almejo...
teus dedos correm postos ao meu desejo.
e quando entras, manso e sereno,
num ardiloso gesto, ao acariciar os pêlos
após tão bruto, celeste lampêjo e desatas
ateando fogo ao meu segredo...
ritmicamente, ora alto ora ameno
soluçando meu nome, em prosa
deslizando teus dedos à rosa
encontrando-a, ao acaso... pétala por pétala
arranca-as com teus dentes!

amores...

descobri o segredo dos silenciosos
quando saem para devorar o ventre da noite
e mordem, calados, o tempo, o vazio
e somem com suas vestes escarlates, metálicas
cavaleiros das trevas, senhores do nada
quando voltam, assombram meus sonhos
quando partem, arrancam meu sono
o coração em decrépito, na espera amarga
o manto da Senhora já não toca minhas mãos
não acredito em Santos
já não oro em secreto
só o medo é conselheiro.
rendam-se, eu me rendo à entrega
quando eles vêem, vêm cobrindo as tropas do hades
com seus olhos em fogo e ferozes
punhais afiados e gritos prêsos
quando entram pelo grande portão, já não há
nunca houve salvação.
amores, amores... anjos da perdição!

MEU...




DESGRAÇADO DESEJO QUE FOI-ME PARECER ÓBVIO AOS OLHOS DE MENINA
PARA QUE A PERDIÇÃO SUSTENTASSE MEUS DIAS ATÉ A MORTE
CONSUMINDO TANTO A CARNE QUE ISOLOU A ALMA E A VIDA
RASGANDO EXCESSIVAMENTE O TEMPO DAS MATIZES MAIS INGÊNUAS
FOI UM MENINO, HOJE, UM HOMEM DO CORPO TORNEADO
MORENO, MÃOS E CURVAS SAGRADAS COMO OS CÉUS
E EU ME PERDI PARA SEMPRE, SEM VOLTA, SEM ARREPENDIMENTO
ELE FOI UM deus E MEU PECADO, RUÍNA
ELE FOI MEU deus E MINHA VIDA, PERDIDA
ELE É MEU deus E POR PROFANAR OS DIAS, MORRI EM DOR E DESATINO
ELE, AGORA, ESTÁ DISTANTE E MINHAS LÁGRIMAS, SANGUE E LAVA
INFERNO E PARAÍSO HABITAM-ME
VIOLENTAM MEUS MAIS SECRETOS ANSEIOS
ELE É TUDO, FIZ DELE MEU GRANDE MOTIVO
E POR FAZER DELE TUDO
TORNEI-ME UM IMENSO E DERRADEIRO nada!

Ser EU


Devassa em pensamentos
tantos que não cabem naquilo que esforço pra ser
meu dilema e atropelos, todos juntos
são uma farsa para quem assiste
tudo, o tempo todo, a mentira sangrando no mármore
a falta de fé inebriante e desatinada
e a busca sagrada do que eu nem sei onde encontrar...
não há nada e ninguém olhando meu destino
as mãos de Platão por prejuízo
o desejo esmerado no corpo masculino
a filosofia desabitada que criei pra não me perder, inteiramente!
e as pessoas passam caladas
num silêncio feroz dos santos
dos anjos que caíram e não tem morada
dos ventos que sopram cruzados, desmoronando as paredes greco-romanas
e tudo, mais uma vez, numa falsidade prudente e irremediável...
Irremediada como minh'alma
minha culpa de AMAR sem ser amada
tanta e tanta gente!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Carta de despedida


O bom é saber que nada foi em vão.
Meus tantos pensamentos, as lágrimas cortando madrugadas, espalmando-se ao chão
não, não foram em vão!
As canções ouvidas com ardor da alma, as noites em claro, minhas dores mais agudas
não, nada foi em vão!
Teu olhar queimando no meu, o ritmo bagunçado do teu coração, o sim, o não
e nem mesmo assim foi em vão!
Meus ímpetos de menina apaixonada, desejo de sentir-me amada, as horas passadas
não foram e nunca serão em vão...
Nossos beijos guardados, gravados no tempo... sorrisos, palavras
por Deus... não foram um pouco, sequer, em vão!
tuas mãos tocando minh'alma, a mais sagrada morada, meu pudor
vertigem, sexo e paixão...
nunca poderei dizer que foi em vão...
porque não foi...
acasos, princípios e precipícios...
tudo muito bem traçado...
acaso nunca é em vão
princípio, entremeios de livre-arbítrios
precipícios de minha perdição...
teu AMOR, eternizado e o meu, selados então
jamais serão em vão!