terça-feira, 9 de novembro de 2010

Teus olhos...


                                                      
Teus olhos...
Negros a queimar-me os véus dos pudores mais altos
a fronte inclinada mas Onix negra  a fitar-me, os olhos somente e os raios das matizes mais lúgubres
Negros a devorar-me, ainda não despida, e a despir-me ora entre sede ora violentamente
Negros e, ao mesmo tempo, castos daqueles sonhos debutantes e amenos que deixei para trás
tão Negros que faziam da noite a menor estrela!
Negros e quentes como o sol nos trópicos a queimar pele e sentidos...
Perdida e humilhada pelo ardor da obscuridade, do medo
perdida pelos teus e somente pelos teus inteiros olhos Negros, ávidos
numa espécie de invocação profana que consome alma e espírito inteiros...
Negros a olhar-me grata, a molhar-me secretamente, desvelando-me os desejos mais impuros e perversos...
Negros, à seda, fina a afagar-me entre os seios e o sexo...
Negros, adorando-me nua e envolta em tules sagrados...
Negros queimando o que de pouco alíviava, nutria meu espectro encarnado...
Agora e sempre, Negros, teus olhos e teus ensejos e tuas doces palavras peremptórias
de uma noite apenas, menos Negra, tão intensa quanto teu olhar...
Toma-me e nos rumores eloquentes da noite chama-me tua, única vez tua...
Meus únicos olhos de perdição eterna...
Caminho sem volta...
Seol em chamas...
Que ardam, então, nossos corpos
na travessia exacerbadamente densa do Aqueronte, olhos de fogos Negros...
rumo, à alma e meus pecados, sejam guardados em segredo por Caronte!
Do mal a que adentrei-me a  teus olhos negros e por eles dei-me à Hades...
Negros e mortais...
Eternamente!

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